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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Espaço Ficcional

Acabo de chegar de um encontro com o ator Márcio Machado. Um mês após a finalização do roteiro do curta-metragem (prólogo) de YELLOW BASTARD, nos encontramos para darmos continuidade e aprofundar o processo de criação da peça (com estreia agendada para junho de 2018 no Rio de Janeiro).

Para além das inúmeras anotações que fiz em meu caderno, destaco uma: a dimensão ficcional. É uma criação que precisa ser gastada na sua dimensão fabular (inventada e inventiva). As certezas, nesse momento da criação, morrem todas. É preciso se perguntar tudo novamente e, pouco a pouco, decidindo alguns aspectos dessa história.

Vamos contar uma história. Sim, uma história, outra história. Um extraterrestre que vive no planeta Terra de 1968 a 2018. Nesse percurso, entre humanos, ele vive o desafio de se tornar quem ele de fato é - um extraterrestre, marciano, pele amarela - e também a crueldade de ser alvo da intolerância humana. Conversamos muito sobre familiaridade e estranhamento, sobre identificação e estranheza/transformação, sobre Aristóteles e Bertolt Brecht.


Auschwitz: rede de campos de concentração no sul da Polônia.


Sobretudo, percebo: não é uma criação onde um ator vai falar um texto, performar a dramaturgia. É um trabalho de composição de um personagem enredado dentro de uma dimensão ficcional. Específica da fábula. Ou seja: onde ele está? Está preso? É refém de alguém ou algo? Ele fala para quem e a partir do quê?

Volto à importância que julgo ter a situação. A situação explode e apresenta o personagem e seu drama. O personagem não se mostra para o espectador, é o espectador quem o recebe a partir do drama em acontecimento, em situação. Ou seja: se ele está aprisionado, se começa a "peça" preso, numa cela "qualquer", é a partir desse contexto - dessa situação - que sua fala explode e o espectador pode então ler o drama, vê-lo acontecer.

Lembro-me dos campos de concentração. Lembro-me de Auschwitz. Lembro-me da inteligência humana a favor do extermínio humano. Lembro do vínculo entre as palavras DIFERENÇA e INTOLERÂNCIA. Há uma proporção indireta, me parece: quanto menos se é quem se é, maior a intolerância. Disse ao Márcio: primeiro conosco, por sabermos que somos algo que não aceitamos (por conta da moral, da tradição, da família e religião) e nos repudiamos por isso; na sequência, a intolerância que primeiro nasce contra si próprio, resvala ao outro, pois o outro não pode ser alegremente quem eu sou.

Eis o cerne, me parece. Por enquanto, eis um cerne.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Introdução de diferença

O que sabemos é pouco ainda: um extraterrestre, um marciano, habitando o planeta Terra faz quatro décadas, agora vai retornar ao seu planeta de origem, mas, antes de a ele retornar, deixará algumas palavras ao ser humano. É isso o que temos. E o que mais?

Pensamos sobre a intolerância humana. Queríamos e queremos dar a ver algo sobre a intolerância do homem. Isso nos fez pensar a história da humanidade, tão preenchida desses casos de violencia e destruição, morte e ódio. Certo. E mais o quê?

Seria preciso então pensar o modo pelo qual essa história seria contada e inventada. O modo como um procedimento que, desde já, anuncia os conteúdos todos. Eu quero dizer: a coisa está no modo pelo qual ela será apresentada. Pensemos: se ficarmos presos apenas a esse relato desse extraterrestre, pouco abriremos de diferença em relação ao que ele poderia, inclusive, nos dizer sobre a raça humana. Porém, se especularmos outra forma que não apenas a do relato, então, inevitavelmente, veremos outro tipo de assunto brotar em nossa criação.

Ainda não me faço claro. Eu quero dizer que a diferença está, primeiramente, no modo pelo qual essa fábula será apresentada. Se quisermos que tal fábula atualize algumas características da condição humana, então, inevitavelmente, teremos que ousar outros modos de contar. Porém, por que essa exigência de introduzir uma diferença?

Isso me chega através do Aristóteles. Para ele, a mimesis não seria uma reprodução da realidade tal como ela é, mas uma operação técnica e se produção - uma poiesis - que introduz nessa mesma realidade uma diferença. Ou seja, a obra de arte não é mera fotografía do real, mas, justamente ao contrário, um espaço-tempo que transforma esse mesmo real.

Por isso me pergunto: onde está a diferença em YELLOW BASTARD? Para além de termos um marciano falando à raça humana, onde está a diferença? Seria em sua sensibilidade (poética) para ler o humano? Seria a sua linguagem e o modo pelo qual ele aprendeu a nossa?

A partir dessa semana, início de agosto de 2017, começaremos a nos encontrar semanalmente para começar - de fato - essa criação. Este blog, então, passará a ter mais registros do caminho criativo.

sábado, 24 de junho de 2017

Há vegetação em Marte? Estamos em Marte?



Eu estava em Buenos Aires, na Argentina, numa festa. No quintal, próximo ao salão de festas do apartamento em que acontecia a festa, vi essas luminárias sobre o gramado. De imediato me veio Yellow Bastard. Tirei essas fotos e fiquei pensando se a vegetação não existe lá também, lá em Marte. O que sabemos de Marte é um projeto que domestica o nosso real saber sobre Marte? Suspeito um pouco. Não sei se não tem água lá. Outra coisa: o que importa Marte - em nossa criação - ser como é Marte na realidade? Alguém entre nós conhece Marte de fato? E mesmo que esse alguém soubesse tudo de Marte, estamos criando uma parada, correto? Podemos fazer dela e com ela aquilo que acharmos importante fazer. Desde que com algum propósito. Não importa se tem ou não vegetação, importa, antes, que a gente se pergunte: para que essa história? Para que essa peça? Para que Marte? Para quê? Para quem?