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segunda-feira, 15 de maio de 2017

Fora da Caixa

Pois como é difícil pensar fora da caixa. A linguagem teatral se antecipa a todo e qualquer arrepio e, muitas vezes, um processo de criação move mais esforços tentando se livrar das exigências predeterminadas do que propriamente vendo brotar uma nova criação.

No caso desse projeto, o que temos é quase nada. Um ator - Márcio Machado - e um diretor-dramaturgo, eu, além dos outros artistas integrantes do Teatro Inominável. Não temos muita coisa definida, exceto a potência de um desejo de realizar, de contar uma história que possa trazer dúvidas ao mundo de hoje.

Mas, como é difícil. Fico me perguntando como é possível se livrar dos códigos e das linguagens para acompanhar a criação através do arrepio que é o desejo. Sempre a mesma busca, sempre a mesma indagação. As imagens me chegam não como revelações, mas como um modo de corromper e atravessar os modelos instituídos. Ou seja, elas já me chegam rendidas por tudo isso.

Osso. Ao menos, preciso reconhecer, entre nós há desde o princípio o diagnóstico desse desafio criacional. Da escuridão das poéticas cênicas e dramatúrgicas, vejo algum vislumbre de que pensar Yellow Bastard para fora de si - com um destinatário evidente que não a própria criação - seria um modo de fazer com que essa peça venha ao mundo.

sábado, 6 de maio de 2017

O que uma criação pode mover?

Tenho observado, com algum espanto, como uma criação teatral pode mover o nosso olhar e a nossa sensibilidade em direção à vida cotidiana. Por certo, movemos - nós, artistas - cada nova criação. No entanto, é precioso reconhecer o que pode mover uma criação para além da criação em si.

Os olhos passam a ver - ou, ao menos, a espreitar o interior que mora dentro das coisas. A busca pela verdade se desmancha e o caminho vira instante, instantes sucessivos e que não carecem, ainda, de um contorno preciso. Uma nova criação artística move em quem a cria essa consistência de processo em que o mais vital é justamente a multiplicidade de rumos e sentidos, a despeito de um inevitável fechamento.

Não há nada para ser encontrado. Não ainda. Uma criação nos move à produção de outro corpo, não apenas à produção de uma peça de teatro. Solicita em nós, ainda que tal consistência possa ainda não existir, solicita outro modo de operar com desejos e indefinições. Tudo - mesmo - vira jogo, tudo diz respeito à criação.

Neste caso, Yellow Bastard, não importa o que já descobrimos. Nem o que planejamos, o que já foi vivido quiçá o que está por vir. Ainda hoje só o que importa é o desejo inventivo e ele se traduz transparentemente feito um caminho, um ir que não precisa chegar porque ir é já estar. Ir é criar.

Um monólogo teatral. Teatral? Monólogo? Uma ação acontecendo na presença de outras e outros. Um ator, uma grande equipe, um gesto é o que vamos compor. Vamos compor um gesto. Um gesto é o que estamos compondo. Um dizer. Uma fala. Uma treta ao mundo destinada.

Ou: um destino a esse mundo treta, mundo tretado, mundo coisa, mundo coisificado. Uma outra e nova possibilidade em meio à falência das possibilidades.