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segunda-feira, 20 de maio de 2019

Processando o processo de criação...

Faz meses não escrevo nesse blog. O que não quer dizer - definitivamente - que não esteja escrevendo muito. O processo de YELLOW BASTARD segue firme, intenso, revelador e um tanto desafiador. Faz parte do caminho. Estamos a seis semanas da estreia, que será no dia 26 de junho desse 2019. A narrativa do romance foi finalizada já faz umas semanas, bem como a dramaturgia. Nas últimas semanas, fizemos passadas da cena 1 até à cena 7, contando sempre com a presença da equipe de criação e de amigas e amigos convidadxs. É um momento oportuno para testarmos essa loucura que estamos criando.

Loucura? Ora, sim. No mínimo, algo fora dos padrões. Em primeiro, fora dos nossos padrões. E isso é o mais lindo e, talvez por isso, o mais louco. É lindo - assim eu sinto - ver uma criação se criando e começando a mostrar sua cara, seu corpo, sua força. É estranho. Eu não sei o que é isso, apesar de estar ali, criando junto. É espantoso o jogo das formas e das intensidades, assustador e apaixonante a trama dos sentidos e de tantas sensibilidades. É tão bonito ver o Márcio reagindo a tudo e compondo, nunca parando de compor, buscando entender e confiando destemidamente no medo que o sustenta. E trabalhar em companhia, junto às pessoas que você admira, isso realmente é o que me importa.



Para além das resoluções inúmeras e da criação propriamente dita, que segue em fluxo, seria preciso que eu conseguisse criar distância, sabe? Olhar para essa criação na distância para fazer algumas perguntas bem violentas, bem rigorosas, cruéis, eu diria. Seria preciso perguntar a YELLOW BASTARD qual é a dele. Qual é a sua, hein? O que você está querendo? Que gesto é esse que você está fazendo? Com qual propósito e, obviamente, para quem? Você fala com quem que não apenas consigo mesmo? São perguntas que não cessam e que não precisam cessar. Fica - e vale - o movimento do processo criativo.

Estamos descobrindo a nossa cenografia, a nossa iluminação, em breve o figurino, a trilha sonora e a voz, o corpo. Estamos moldando e compondo - fazendo escolhas juntxs. Estamos em processo de criação e de produção. Criação-produção, como costumo dizer, tudo enredado. É um privilégio poder fazer e um privilégio maior ainda fazer tudo isso com carinho, amor, escuta e cuidado. Isso é o mais difícil, ao mesmo tempo, é mesmo o mais essencial. Comemorando dez anos de Teatro Inominável, YELLOW é nossa décima criação. É um presente estar vivo para criar essa nova criação.



Acordei hoje cedo e senti vontade de fazer a imagem anterior. Ela desenha uma espécie de cronologia da cor neste espetáculo. São as mutações tonais da pele de nosso protagonista. Ele muda de cor. Começa branco, passa para amarelo, depois queima - vermelho, queima até ficar preto e no mais profundo de sua "humanidade" incinerada, faz brotar o rosa-pink. Que loucura, que loucura, que magia, que amor, que delícia. Adiante, sempre adiante!

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Por que queremos que determinada "coisa" se dê de determinado "modo"?

Há um dado que desorienta ou reorienta positivamente esta futura encenação. Antes, estava certo de que YELLOW aconteceria num palco italiano, novamente uma peça com os espectadores em posição frontal à cena. Por questões relativas ao patrocinador, nosso espetáculo terá que estrear num teatro cuja disposição espacial da peça pode ser qualquer uma, exceto italiana.

Num primeiro momento, alguns meses - é verdade -, isso me chateou. No momento seguinte, vi a chateação se transformando em um convite muito pertinente. Observo como eu, nessa posição de encenador, estava querendo privilegiar a mise-en-scène de YELLOW, a despeito do acontecimento, da ação propriamente dita.

Com essa exigência em termos espaciais, comecei a pesquisar na história do teatro alguns significados outros para o jogo que estamos começando a compor. E eis que encontro, a título de um exemplo, apenas um exemplo, uma encenação de 1962 feita por Jerzy Grotowski e os artistas de seu Teatro Laboratório. Trata-se de "Kordian".


É o próprio acontecimento da narrativa que o espaço "encena". Espectadores e atores misturados numa mesma sala. O olhar do público não é direcionado para um ponto fixo, mas, gosto de ler dessa maneira, é convidado a frequentar o espaço, entrar nas situações, recusá-las. Naturalmente, não quero dizer que me interessa simplesmente fazer algo parecido. Antes, me interessa perceber que estou acordando novamente a minha sensibilidade para os possíveis inúmeros que o teatro pode oferecer.

Se pensarmos YELLOW nesse grau de proximidade, vejo que intensificarei o trabalho do ator Márcio Machado, afinal, sua ação será colada ao espectador e - se quisermos fazer com que algo aconteça, que o ator dê seu corpo e sua alma a esse ser estrangeiro - assim, é como se colocássemos o espectador dentro da situação onde se encontra o extraterrestre.

Não importa definir. Importa lembrar que é determinante nos perguntarmos, incessantemente, nem bem o que queremos (porque acho que já estamos demasiadamente condicionados a querer "coisas" em cena), mas - essencialmente, precariamente, cruelmente - por que queremos que determinada "coisa" se dê de determinado modo.

Porque o fazer teatral tende a se formalizar por conta de nossa época, de nossa cultura, de nosso ego e de nossos medos e receios. Em um processo de criação, ao menos neste, quero ser muito radical em relação às escolhas, sem medo a me nortear; isso seria o que para mim é criar.