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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Tempos, espaços, inúmeros...

São considerações imprecisas, nascidas do calor da sala de trabalho.

Tenho observado - no trabalho de composição e uso do texto - que a noção de um tempo Kairós está se alastrando também para o espaço. Quero dizer: por estar escrevendo um romance que, na sequência, é desfigurado e vira um texto a ser utilizado pelo ator, os tempos já se revelam inúmeros: a fala presencial, a descrição presente, as memórias que voltam e mesmo tempos indefinidos, quase como não-tempos.

Por extensão, também o espaço é desfigurado, perde seu eixo: espaços surgem e desaparecem, eles se sobrepõem e coexistem lado a lado. Há uma espécie de jogo análogo (um regime analógico?) onde distintos espaços se sugerem e nunca o que temos é apenas um espaço. Como também nunca temos apenas um tempo. Essa instabilidade tempo-espacial me parece fundamental à trama que estamos contando.

Seria preciso se perguntar no que esse jogo serve ao espectador?

As perguntas ficam ainda em aberto, buscando - não respostas - mas sensações distintas para este processo criativo. Fui pesquisar Kronos e Kairós e encontrei - era óbvio, não? - algumas pinturas de Salvador Dali. Estou animadíssimo:

Melting Watch, 1954 by Salvador Dali

The persistence of memory, 1931 by Salvador Dali

Não saberia ler essas pinturas de imediato, mas conservo elas bem próximo a mim a partir de agora. Para além da desfiguração do relógio enquanto marca de alguma linearidade (apesar da circularidade do projeto), para além disso, interessa-me uma espécie de desfiguração do espaço, algumas sobreposições de matérias e corpos.

Segue tudo em aberto, se encontrando, se perdendo, se firmando...

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