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sábado, 24 de junho de 2017

Há vegetação em Marte? Estamos em Marte?



Eu estava em Buenos Aires, na Argentina, numa festa. No quintal, próximo ao salão de festas do apartamento em que acontecia a festa, vi essas luminárias sobre o gramado. De imediato me veio Yellow Bastard. Tirei essas fotos e fiquei pensando se a vegetação não existe lá também, lá em Marte. O que sabemos de Marte é um projeto que domestica o nosso real saber sobre Marte? Suspeito um pouco. Não sei se não tem água lá. Outra coisa: o que importa Marte - em nossa criação - ser como é Marte na realidade? Alguém entre nós conhece Marte de fato? E mesmo que esse alguém soubesse tudo de Marte, estamos criando uma parada, correto? Podemos fazer dela e com ela aquilo que acharmos importante fazer. Desde que com algum propósito. Não importa se tem ou não vegetação, importa, antes, que a gente se pergunte: para que essa história? Para que essa peça? Para que Marte? Para quê? Para quem? 

De volta às intuições

Com a calma de quem nada quer fazer brotar, a partir de agosto começaremos a nos reunir uma vez por semana para alimentar a criação dessa nova criação do Teatro Inominável. Até o presente momento, já foram vários encontros, mas tudo sem eixo, tudo meio solto (apesar de termos desejado continuar a criação, isso nunca foi possível). Agora, no entanto, será.

Temos um patrocínio e uma data para estrear: junho de 2018. Não sabemos muito do que se trata a coisa toda, apesar de sabermos já um bocado de coisas. Mas, nesse caso, no caso de Yellow Bastard, saber é o que menos importa agora. É preciso voltar às intuições para resgatar - sem muita força - aquilo que brotou feito arrepio. Para que possamos compor não um eixo feito de ossos ou músculos, mas apenas de sinapses e nervos. Estilhaços de imagens e arrepios.

Como conceber a consistência de uma nova criação artística, teatral? Do que ela é feita? Do que queremos que ela seja composta? São perguntas interessantes de se fazer. Quais ingredientes entram em nosso jogo? Podemos escolher todos ou devemos ceder ao imprevisível para que entre nós pouse também aquilo que não foi por nós escolhido? Voltar às intuições para preservar e cuidar dos arrepios.

Sempre que escrevo essa palavra - intuição - outra palavra pousa em mim: arrepio. Intuição-arrepio. Arrepio enquanto intuição que não sabe o destino, desconhece os fins, as finalidades, mas é tão intensa em si própria que isso já faz bastar sua existência. Resgatar as intuições para eletrocutar o corpo novamente. Para vermos onde dá brilho, onde - em nós, em nosso encontro - a faísca existe, respira e incendeia.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Fora da Caixa

Pois como é difícil pensar fora da caixa. A linguagem teatral se antecipa a todo e qualquer arrepio e, muitas vezes, um processo de criação move mais esforços tentando se livrar das exigências predeterminadas do que propriamente vendo brotar uma nova criação.

No caso desse projeto, o que temos é quase nada. Um ator - Márcio Machado - e um diretor-dramaturgo, eu, além dos outros artistas integrantes do Teatro Inominável. Não temos muita coisa definida, exceto a potência de um desejo de realizar, de contar uma história que possa trazer dúvidas ao mundo de hoje.

Mas, como é difícil. Fico me perguntando como é possível se livrar dos códigos e das linguagens para acompanhar a criação através do arrepio que é o desejo. Sempre a mesma busca, sempre a mesma indagação. As imagens me chegam não como revelações, mas como um modo de corromper e atravessar os modelos instituídos. Ou seja, elas já me chegam rendidas por tudo isso.

Osso. Ao menos, preciso reconhecer, entre nós há desde o princípio o diagnóstico desse desafio criacional. Da escuridão das poéticas cênicas e dramatúrgicas, vejo algum vislumbre de que pensar Yellow Bastard para fora de si - com um destinatário evidente que não a própria criação - seria um modo de fazer com que essa peça venha ao mundo.